sexta-feira, 23 de outubro de 2015

No Rio, o primeiro jornal feminino do Brasil


O ano de 1808 marca o início da imprensa no Brasil, mas até meados do século XIX só surgiam, pelo país, jornais organizados por homens com conteúdo, em geral, voltados ao público masculino.

Apenas em 1852 surgiu o JORNAL DAS SENHORAS, periódico organizado e dirigido por mulheres no Brasil, publicado na cidade do Rio de Janeiro entre os anos de 1852 e 1855.

A Corte, capital do Império, em meados do século XIX, passou por um remodelamento espacial. Com o excedente de capital resultante do fim do tráfico negreiro, houve a implantação do sistema de esgotos e da iluminação a gás e, com isso, surgiram novas formas de sociabilidade para as mulheres e crianças. As famílias de elite passaram a frequentar o Passeio Público, a rua do Ouvidor, onde havia confeitarias e lojas elegantes. Nesse contexto, o Jornal das Senhoras, propiciava às mulheres lerem folhetins franceses, como "A Dama das Camélias", de Alexandre Dumas, tocar partituras de piano, ter acesso a figurinos de moda franceses e debater a emancipação moral da mulher mediante a educação.

A criadora e primeira diretora do JORNAL DAS SENHORAS foi a argentina Joanna Paula  Manso de Noronha, que permaneceu seis meses na direção e depois  a deixou para Violante Atalipa Ximenes de Bivare Vellasco, sua colaboradora.  Defensora da inteligência feminina, Joanna queria convencer a todos de que "Deus deu à mulher uma alma e a fez igual ao homem e sua companheira".

Apesar de não ter atingido toda a sociedade carioca o JORNAL DAS SENHORAS deixou sua marca. A marca de redatoras que contestavam o domínio masculino na direção dos veículos de imprensa, com linguagem intimista buscando a aproximação das leitoras, e que embora ainda receosas com a liberdade imposta pelo jornal, a marca de mulheres que participavam do jornal mandando artigos anônimos ou usando nomes falsos.   

Pioneiro o JORNAL DAS SENHORAS sofreu oposição mesmo na capital do país. Foi alvo de críticas de ambos os sexos e encerrou suas edições em 1855, três anos após a sua fundação.

A última edição do JORNAL DAS SENHORAS foi em 30 de dezembro de 1855, que tinha o informe



“ apenas uma parada, que julgamos necessaria,
no próximo anno de 1856;
e com o favor de Deus
o Jornal das Senhoras reapparecerá em 1857"


O jornal não voltou e apesar do pouco tempo de duração foi significativo para a sociedade carioca, influenciando os costumes, com características culturais de outros países e possibilitando novas experiências. As redatoras buscaram questionar o papel das mulheres em sociedade e ao mesmo tempo expor valores que eram entendidos como os melhores a serem vivenciados no país.

O JORNAL DAS SENHORAS esteve à frente do seu tempo propondo uma emancipação moral e intelectual da mulher, destacando a importância da sua educação e criticando a ideia de que a mulher era propriedade masculina.


Vale muito a pena passear pelas edições, que estão disponibilizadas na Hemeroteca da Biblioteca Nacional.



EM TEMPO:  agradecemos ao amigo leitor do blog Vitor Floresta de Miranda. que sugeriu o tema.


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