quinta-feira, 14 de novembro de 2013

O poeta da Nega Fulô

Morreu no Rio de Janeiro, no dia 15 de novembro de 1953, há 60 anos,  o poeta Jorge de Lima.




O ensaísta francês Daniel Rops apresentou Jorge como “um dos maiores poetas do nosso tempo”. Em 1935, Mário de Andrade se referiu a ele como “o caso mais apaixonante da poesia contemporânea do Brasil”.

Seu famoso poema “Essa negra Fulô”, escrito em 1928, se destaca na literatura brasileira, na temática negra, e até  foi inspirador de enredo de escola de samba.

Essa negra fulô - Jorge de Lima

Ora, se deu que chegou
(isso já faz muito tempo)
no bangüê dum meu avô
uma negra bonitinha,
chamada negra Fulô.
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Ó Fulô! Ó Fulô!
(Era a fala da Sinhá)
— Vai forrar a minha cama
pentear os meus cabelos,
vem ajudar a tirar
a minha roupa, Fulô!
Essa negra Fulô!
Essa negrinha Fulô!
ficou logo pra mucama
pra vigiar a Sinhá,
pra engomar pro Sinhô!
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Ó Fulô! Ó Fulô!
(Era a fala da Sinhá)
vem me ajudar, ó Fulô,
vem abanar o meu corpo
que eu estou suada, Fulô!
vem coçar minha coceira,
vem me catar cafuné,
vem balançar minha rede,
vem me contar uma história,
que eu estou com sono, Fulô!
Essa negra Fulô!
"Era um dia uma princesa
que vivia num castelo
que possuía um vestido
com os peixinhos do mar.
Entrou na perna dum pato
saiu na perna dum pinto
o Rei-Sinhô me mandou
que vos contasse mais cinco".
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Ó Fulô! Ó Fulô!
Vai botar para dormir
esses meninos, Fulô!
"minha mãe me penteou
minha madrasta me enterrou
pelos figos da figueira
que o Sabiá beliscou".
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Ó Fulô! Ó Fulô!
(Era a fala da Sinhá
Chamando a negra Fulô!)
Cadê meu frasco de cheiro
Que teu Sinhô me mandou?
— Ah! Foi você que roubou!
Ah! Foi você que roubou!
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
O Sinhô foi ver a negra
levar couro do feitor.
A negra tirou a roupa,
O Sinhô disse: Fulô!
(A vista se escureceu
que nem a negra Fulô).
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Ó Fulô! Ó Fulô!
Cadê meu lenço de rendas,
Cadê meu cinto, meu broche,
Cadê o meu terço de ouro
que teu Sinhô me mandou?
Ah! foi você que roubou!
Ah! foi você que roubou!
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
O Sinhô foi açoitar
sozinho a negra Fulô.
A negra tirou a saia
e tirou o cabeção,
de dentro dêle pulou
nuinha a negra Fulô.
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Ó Fulô! Ó Fulô!
Cadê, cadê teu Sinhô
que Nosso Senhor me mandou?
Ah! Foi você que roubou,
foi você, negra fulô?
Essa negra Fulô!

Na voz de João Villaret e gravado num recital no Teatro S. Luis em Lisboa, em 1957

 

A Estação Primeira de Mangueira, no carnaval de 1975,   apresentou  "IMAGENS POÉTICAS DE JORGE LIMA"
(Compositores: Tolito, Mozart e Delson)
 
Na epopéia triunfal
Que a literatura conquistou
Em síntese de um sonho
O poeta tão risonho
Assim se consagrou ô ô ô

Ô ô ô ô ô
Esta é a negra fulô
Uma obra fascinante
Que o poeta tão brilhante
O povo admirou

Jorge de Lima em Alagoas nasceu
Ouviu tudo dos antigos
O que aconteceu
Com os escravos na senzala
E no Quilombo dos Palmares
Foi um sábio que seguiu as tradições
Com seus versos, poemas e canções
Boneca de pano é jóia rara
Calabar e o acendedor de lampiões


Jorge de Lima era médico e teve consultório médico no prédio do Café Amarelinho, na Cinelândia. Lá também foi um dos pontos de reunião de escritores, poetas e pintores mais concorridos do Rio. 


Um comentário:

  1. O SAMBA NEGRA FULÕ,MARCOU MUITO PARA MIM,POIS FOI A PRIMEIRA VEZ QUE FUI NA ESCOLA DE SAMBA.DÁI PRA FRENTE,SOU MANGUEIRENÇE AT~´E O FIM.FIQUEI MUITO SATISFEITA RE REVER O MEU SAMBA QUERIDO.

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