terça-feira, 22 de outubro de 2013

Adeus à última casa da Avenida Atlântica

Casa de pedra vai ao chão.





Casa de Pedra, última da Avenida Atlântica, em Copacabana, é demolida para dar lugar a um hotel luxuoso
Foto: Marcelo Carnaval / Agência O Globo

Fotos - reprodução da internet

Desde esta segunda-feira a última casa da Avenida Atlântica , o número 2691, localizada na esquina com a Rua Santa Clara, já não faz parte da paisagem da Praia de Copacabana.

No fim da tarde, a retroescavadeira colocava abaixo as últimas paredes do imóvel, conhecido como a “casa de pedra”. A demolição levou três dias e ainda vai levar cerca de um mês para o terreno ficar todo limpo.

No lugar será erguido um hotel de luxo e levará dois anos para ficar pronto, antes das Olimpíadas

O comprador, o empresário Omar Peres, dono do restaurante La Fiorentina, tem como sócio no negócio o dono da Avianca, German Efromovich.



Omar Peres em frente à casa antes da demolição

A propriedade saiu por R$ 32 milhões — corretores estimam entre R$ 30 milhões e R$ 40 milhões o valor de um imóvel do gênero na orla do bairro e terá projeto arquitetônico da iraquiana Zaha Hadid, que incluirá na  entrada, uma parede com pedras da casa, que receberá, do designer Aroeira, imagens de grande nomes do Rio. A construção terá 12 andares e cerca de cem apartamentos.

O hotel terá o diferencial, além da vista (é claro!) dos mimos aos clientes, como mordomo bilíngue exclusivo — que pode fazer compras e arrumar o armário, por exemplo —, carro para buscar e levar ao aeroporto, bebidas como bons vinhos e uísque na diária e um spa no terraço.

A avenida Atlântica que já foi uma avenida de casarões hoje se tornou um paredão de espigões.

Avenida Atlântica em 1919


A casa de pedra que se foi pertencia a Zilda Azambuja Canavarro Pereira,  ali morou desde 1917  entre prataria, ourivesaria, tapeçaria, objetos em marfim e tantas outras lindas peças e obras de arte. Inclusive obras únicas, como uma autêntica escultura criselefantina em bronze patinado de Demetre Chiparus, além da tela “O Voto de Heloisa”, do pintor Pedro Americo e um par de poltronas no estilo Luis XV, datado do século 19, que pertenceu à coleção pessoal de Elizabeth Taylor.

Madame Canavarro - como a conheciam - nasceu no dia 2 de julho de 1911 e os que com ela conviveram, dela diziam que sempre teve um coração imenso! Linda, inteligente, poderosa, digna e uma das últimas damas da sociedade carioca.

Zilda ,  que de solteira era Azambuja Lowndes, famílias cariocas tradicionalíssimas, vivia cercada de empregados leais e era sempre visitada por vários sobrinhos seus herdeiros, que cuidavam dela. Foi casada com Olavo Canavarro Pereira, falecido em 1968.

Muito generosa com os empregados, que a cercavam de carinho, Zilda recebia todas as quartas-feiras para almoço os sobrinhos e os parentes. Com problemas de garganta, apesar de já não mais falar, Zilda caminhava com agilidade, sem mesmo precisar de qualquer ajuda. À última grande festa que compareceu - bodas dos Lowndes, seus primos, no Country Club - Zilda foi calçando salto alto, então, aos 99 anos!...
Segundo consta na vizinhança, Zilda deixou todos os bons empregados garantidos em seu testamento.

Zilda morreu em maio de 2012, aos 101 anos.

Tramitou no Conselho Municipal de Proteção do Patrimônio Cultural um processo de consulta sobre a demolição da casa de pedra. Embora a construção não fosse tombada, o caso precisou passar pelo conselho porque é o que determina a lei para todos os imóveis da cidade erguidos antes de 1938. Infelizmente a demolição foi autorizada e, mais uma vez, a história da cidade virou pó.


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