sábado, 27 de outubro de 2012

Garota de Ipanema

Todos sabem que Tom Jobim e Vinícius de Moraes compuseram esta obra-prima num bar, em homenagem a Heloísa Eneida Menezes Paes Pinto, ou simplesmente Helô Pinheiro.

Antes da visão inspiradora, porém, a música de Tom chegou a receber outra letra de Vinícius, que nenhum dos dois gostou muito. A música se chamaria “Caminho do Mar” e teria a seguinte letra:

“Vinha cansado de tudo
De tantos caminhos
Tão sem poesia
Tão sem passarinhos
Com medo da vida
Com medo de amar
Quando na tarde vazia
Tão linda no espaço
Eu vi a menina
Que vinha num passo
Cheio de balanço
Caminho do mar”


“Caminho do Mar” foi feita para um musical de Tom e Vinícius chamado “Blimp!”, que não chegou a ser encenado. Na peça, os atributos da garota seduziriam um extraterrestre que pousava de disco voador na praia de Ipanema.




Eis que numa bela tarde de 1962, em Ipanema, no Bar Veloso, hoje "Bar Garota de Ipanema”, na esquina da Rua Prudente de Morais com a Rua Montenegro - hoje Rua Vinícius de Moraes em homenagem ao poeta  - Vinicius e seu parceiro inspirados no corpo dourado da moradora do número 22 da mesma Rua Montenegro, que passava a caminho do mar, resolveram mudar a letra e o nome da música

Vinícius de Moraes publicou a revelação em 1965...

"A verdadeira Garota de Ipanema
Seu nome é Heloísa Eneida Menezes Paes Pinto, mas todos a chamam de Helô. Há três anos atrás ela passava, ali no cruzamento de Montenegro e Prudente de Morais, em demanda da praia, e nós a achávamos demais. Do nosso posto de observação, no Veloso, enxugando a nossa cervejinha, Tom e eu emudecíamos à sua vinda maravilhosa. O ar ficava mais volátil como para facilitar-lhe o divino balanço do andar.
E lá ia ela toda linda, a garota de Ipanema, desenvolvendo no percurso a geometria espacial do seu balanceio quase samba, e cuja fórmula teria escapado ao próprio Einstein; seria preciso um António Carlos Jobim para pedir ao piano, em grande e religiosa intimidade, a revelação do seu segredo.
Para ela fizemos, com todo o respeito e mudo encantamento, o samba que a colocou nas manchetes do mundo inteiro e fez de nossa querida Ipanema uma palavra mágica para os ouvintes estrangeiros.
Ela foi e é para nós o paradigma do bruto carioca; a moça dourada, misto de flor e sereia, cheia de luz e de graça mas cuja visão é também triste, pois carrega consigo, a caminho do mar, o sentimento do que passa, da beleza que não é só nossa - é um dom da vida em seu lindo e melancólico fluir e refluir constante."



Garota de Ipanema

(Antonio Carlos Jobim/Vinícius de Moraes)

Olha que coisa mais linda
Mais cheia de graça
É ela menina
Que vem e que passa
Num doce balanço, a caminho do mar
Moça do corpo dourado
Do sol de Ipanema
O seu balançado é mais que um poema
É a coisa mais linda que eu já vi passar

Ah, porque estou tão sozinho
Ah, porque tudo é tão triste
Ah, a beleza que existe
A beleza que não é só minha
Que também passa sozinha

Ah, se ela soubesse
Que quando ela passa
O mundo sorrindo se enche de graça
E fica mais lindo
Por causa do amor


Em um show, em uma temporada no restaurante Au Bon Gourmet, onde se encontraram as ilustres figuras de Tom Jobim, Vinícius de Moraes, João Gilberto e o grupo Os Cariocas, que ainda contou com a presença na 'cozinha' de Milton Banana na bateria e Otávio Bailly no contra-baixo  - e sob a direção musical de Aloysio de Oliveira -   houve uma espécie de batismo, a primeira apresentação em público de canções que em pouco tempo se tornariam clássicos, como "Samba do avião", "Samba da benção"  "Só danço samba" e, claro  "Garota de Ipanema", que mereceu uma introdução que entrou para a história.

Vale a pena ouvir!




A primeira gravação comercial, no entanto, se deu com Pery Ribeiro.





 Pery contou como conseguiu ser o primeiro a gravar:


"- Eu roubei. (risos). 
Foi uma espécie de roubo. Tom Jobim tinha acabado de fazer "Garota de Ipanema" com Vinícius. Eles estavam fazendo um show no Rio de Janeiro, numa casa chamada Bom Gourmet. Eu to falando de 61 para 62 e eram: Tom Jobim, Vinícius de Morais, Os Cariocas e João Gilberto no mesmo lugar, fazendo um showzinho para 15 a 20 pessoas. Numa dessas noites eu estava lá. Eu ia quase toda noite. 
Nessa noite eu estava com Carlinhos Lyra e o Tom Jobim sentou no piano e disse: 
"Olha, eu vou cantar uma música que nós acabamos de fazer, eu e Vinicinho... Vinicinho, cadê o papel?" 
Colocou em cima do piano e começou a cantar: 
"Olha que coisa mais linda..." Eu fiquei doido com a música, a primeira vez que eu ouvi fiquei alucinado. Voltei no dia seguinte na mesma situação. 
O Tom: 
"É... nós acabamos de fazer essa música ante ontem... cadê a música Vinicinho, onde esta a letra?..." Aquele jeito do Tom... 
Aí eu levei um gravadorzinho, gravei muito precariamente. Na mesma época eu estava fazendo o meu primeiro disco de Bossa, chamado "Pery é todo Bossa", aí eu levei para o estúdio e mostrei para o grande maestro da época, Lírio Panicalli e falei: 
"Lírio olha isso que eu descobri! É uma música nova do Tom, olha que beleza que é isso aqui." 
Ele ouviu e disse: 
"Pery, que maravilha. Vamos gravar já." 
Aí entramos no estúdio e gravamos. O disco foi pra rua e foi aquele estouro de sucesso. "Garota de Ipanema" estourou em tudo o que era parada de sucesso. Logo em seguida "Os Cariocas" gravaram e depois tomou rumo e andou pelo mundo todo.
( reprodução/ entrevista a 
Neusa Martinez
   foto/ reprodução internet)



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