sábado, 12 de maio de 2012

A casa rosa da Avenida Atlântica em Copacabana



A casa quando ainda era o Consulado da Áustria
Foto:reprodução/internet

"Ela nem é tão bonita assim, mas pertence à realeza carioca e está sendo cortejada por dezenas de pretendentes — alguns estrangeiros. Ninguém parece se importar muito com o dote: para tomar posse de uma das últimas casas da Princesinha do Mar, na orla de Copacabana, será preciso desembolsar, no mínimo, R$ 29,8 milhões, valor exigido, como mostrou Ancelmo Gois em sua coluna no GLOBO, pela República da Áustria, dona do imóvel de dois andares, instalado num terreno de cerca de mil metros quadrados na Avenida Atlântica. Após a negociação, nada de final feliz: a casa, na altura do Posto 6, será demolida para dar lugar a um prédio de alto luxo ou a um hotel cinco estrelas. Com isso, restará apenas mais uma casa em frente ao mar de Copacabana. Tombada, ela está protegida da especulação imobiliária. Em Ipanema e Leblon, ainda restam quatro casas e um clube. 
O destino da casa rosa onde funcionou o Consulado da Áustria até 2009 já está traçado: no dia 16 de agosto, termina a primeira rodada da negociação. A Sivbeg, agente imobiliário que representa a Áustria, receberá as propostas encaminhadas à Jones Lang LaSalle Hotels, empresa responsável pela intermediação do negócio. Depois de analisadas as condições de pagamento dos interessados, serão selecionados alguns para uma segunda rodada de negociações, onde o preço final oferecido vai ter papel decisivo na hora de se bater o martelo. 
O negócio milionário, uma espécie de leilão, é cercado de sigilo. Todos os interessados são obrigados a fazer um acordo de confidencialidade:
— Quem der mais, vai levar. Fizemos três avaliações para se chegar ao valor mínimo de R$ 29,8 milhões. A área permite a construção de prédios residenciais e hotéis. Acreditamos que a rede hoteleira seja a maior interessada porque o potencial construtivo para estes empreendimentos é maior — diz Roberta Oncken, vice-presidente da LaSalle. — Já recebemos mais de uma dezena de interessados. O endereço é muito disputado.
 
A Secretaria de Urbanismo diz que o gabarito da área depende de vários fatores: se o prédio a ser erguido vai ficar grudado na divisa dos vizinhos, ou não, se vai fazer sombra na praia, entre outras variáveis. Especula-se no mercado que possa ser erguido no terreno um prédio de até 13 andares. O mesmo vale no caso de hotéis.
— Nem passamos nada sobre o gabarito para os interessados. Vai ser preciso apresentar o projeto à prefeitura para depois saber exatamente o que é possível ou não — diz Roberta.
Especialista no mercado imobiliário, Rubem Vasconcelos diz que nenhuma construtora deve ficar desanimada diante do valor pedido. Segundo cálculos dele, é viável fazer um prédio de sete andares, com apartamentos de 375 metros quadrados cada. Se cada um for vendido por R$ 12 milhões, o negócio terá valido a pena:
— O edifício teria que ser de alto luxo. O metro quadrado sairia a R$ 30 mil. É alto para a Avenida Atlântica, mas bem menor do que o da Delfim Moreira, que pode chegar a R$ 70 mil.
 
Em Copacabana, vizinhos do imóvel que será derrubado estão divididos.
— Poderiam fazer um centro cultural, um teatro. Ela é tão bonita, é uma pena que vá ser posta abaixo — diz Inês Barbosa.
Já Adriana Barbosa defende o fim da casa da Áustria:
— Está feia, abandonada. Ficava mais bonito um prédio de luxo.
 
Uma casa de pedra, na altura da Rua Santa Clara, será a única a resistir na Avenida Atlântica. 
Em Ipanema, além da casa onde funciona o Centro de Cultura Laura Alvim, há o Country Club e duas casas na esquina da Farme de Amoedo. Numa delas, funciona o restaurante Vieira Souto, que guarda em quadros histórias da construção. Quem visita o imóvel pode descobrir que dois amigos ingleses, identificados apenas como Mister Roger e Mister Bailey, ergueram casas geminadas em 1938. Em 1951, a família da médica Sylvia da Silveira Mello passou a morar na casa 234. Um depoimento dela está na parede do restaurante. Alguns trechos mostram como o bairro era diferente: “Na época, Ipanema só tinha três prédios”. Depois, outra passagem saborosa: “Eu ia com meus amigos à praia e tinha um código com a casa. Usava toalhas sobre a barraca para pedir refrigerante, sanduíches ou cerveja. Vendedor só tinha de refresco de limão, biscoito de polvilho e pirulito”.
A casa ao lado, de outra família, virou um galpão abandonado. Sócio do restaurante, André Vasconcelos, diz que a especulação é menor porque o imóvel é tombado.
 
No Leblon, o médico Marcos Polônia, morador da última casa da Delfim Moreira, diz que sequer consegue andar em paz pelo bairro, tamanha a quantidade de propostas que recebe. Perguntado se não venderia o imóvel por R$ 30 milhões, como a casa da Áustria, ele ri:
— Me ofereceram R$ 60 milhões. Mas vou sair daqui para quê? Não mesmo!"

(fonte GloboOnline)



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