sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O abraço do Cristo

O lançamento de uma campanha resultou em um belo espetáculo, quando oito projetores envolveram a estátua do Cristo Redentor com imagens da cidade do Rio de Janeiro e de animações em 3D, culminando com um "grande abraço".

Música de Villa Lobos, Bachianas Brasileiras no. 7.

A campanha Carinho de Verdade teve a direção do cineasta Fernando Salis.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Raquel de Queiroz, atualíssima


A crônica “Votar”
da  escritora Raquel de Queiroz, 
publicada na revista “O Cruzeiro”, 
em 1947, 
com o objetivo de alertar os eleitores 
da importância do voto.
Parece ter escrito hoje!



  • “Não sei se vocês têm meditado como devem no funcionamento do complexo maquinismo político que se chama govêrno democrático, ou govêrno do povo. Em política a gente se desabitua de tomar as palavras no seu sentido imediato. No entanto, talvez não exista, mais do que esta, expressão nenhuma nas línguas vivas que deva ser tomada no seu sentido mais literal: govêrno do povo. Porque, numa democracia, o ato de votar representa o ato de FAZER O GOVÊRNO.
    Pelo voto não se serve a um amigo, não se combate um inimigo, não se presta ato de obediência a um chefe, não se satisfaz uma simpatia. Pelo voto a gente escolhe, de maneira definitiva e irrecorrível, o indivíduo ou grupo de indivíduos que nos vão governar pro determinado prazo de tempo.
    Escolhem-se pelo voto aquêles que vão modificar as leis velhas e fazer leis novas - e quão profundamente nos interessa essa manufatura de leis! A lei nos pode dar e nos pode tirar tudo, até o ar que se respira e a luz que nos alumia, até os sete palmos de terra da derradeira moradia.
    Escolhemos igualmente pelo voto aquêles que nos vão cobrar impostos e, pior ainda, aquêles que irão estipular a quantidade dêsses impostos. Vejam como é grave a escolha dêsses “cobradores”. Uma vez lá em cima podem nos arrastar à penúria, nos chupar a última gôta de sangue do corpo, nos arrancar o último vintém do bôlso.
    E, por falar em dinheiro, pelo voto escolhem-se não só aquêles que vão receber, guardar e gerir a fazenda pública, mas também se escolhem aquêles que vão “fabricar” o dinheiro. Esta é uma das missões mais delicadas que os votantes confiam aos seus escolhidos. Pois se a função emissora cai em mãos desonestas, é o mesmo que ficar o país entregue a uma quadrilha de falsários. Êles desandam a emitir sem conta nem limite, o dinheiro se multiplica tanto que vira papel sujo, e o que ontem valia mil, hoje não vale mais zero.
    Não preciso explicar muito êste capítulo, já que nós ainda nadamos em plena inflação e sabemos à custa da nossa fome o que é ter moedeiros falsos no poder. (E pensar que isto foi escrito ainda em 1947!)
    Escolhem-se nas eleições aquêles que têm direito de demitir e nomear funcionários, e presidir a existência de todo o organismo burocrático.
    E, circunstância mais grave e digna de todo o interêsse: dá-se aos representantes do povo que exercem o poder executivo o comando de tôdas as fôrças armadas: o exército, a marinha, a aviação, as polícias.
    E assim, amigos, quando vocês forem levianamente levar um voto para o Sr. Fulaninho que lhes fêz um favor, ou para o Sr. Sicrano que tem tanta vontade de ser governador, coitadinho, ou para Beltrano que é tão amável, parou o automóvel, lhes deu uma carona e depois solicitou o seu sufrágio - lembrem-se de que não vão proporcionar a êsses sujeitos um simples emprêgo bem remunerado. Vâo lhes entregar um poder enorme e temeroso, vão fazê-los reis; vão lhes dar soldados para êles comandarem - e soldados são homens cuja principal virtude é a cega obediência às ordens dos chefes que lhe dá o povo. Votando, fazemos dos votados nossos representantes legítimos, passando-lhes procuração para agirem em nosso lugar, como se nós próprios fôssem. Entregamos a êsses homens tanques, metralhadoras, canhões, granadas, aviões, submarinos, navios de guerra - e a flor da nossa mocidade, a êles prêsa por um juramento de fidelidade. E tudo isso pode se virar contra nós e nos destruir, como o mostro Frankenstein se virou contra o seu amo e criador.
    Votem, irmãos, votem. Mas pensem bem antes. Votar não é assunto indiferente, é questão pessoal, e quanto! Escolham com calma, pesem e meçam os candidatos, com muito mais paciência e desconfiança do que se estivessem escolhendo uma noiva. Porque, afinal, a mulher quando é ruim, dá-se uma surra, devolve-se ao pai, pede-se desquite. E o govêrno, quando é ruim, êle é que nos dá a surra, êle é que nos põe na rua, tira o último pedaço de pão da bôca dos nossos filhos e nos faz aprodecer na cadeia. E quando a gente não se conforma, nos intitula de revoltoso e dá cabo de nós a ferro e fogo.
    E agora um conselho final, que pode parecer um mau conselho, mas no fundo é muito honesto. Meu amigo e leitor, se você estiver comprometido a votar com alguém, se sofrer pressão de algum poderoso para sufragar êste ou aquêle candidato, não se preocupe. Não se prenda infantilmente a uma promessa arrancada à sua pobreza, à sua dependência ou à sua timidez. Lembre-se de que o voto é secreto.
    Se o obrigam a prometer, prometa. Se tem mêdo de dizer não, diga sim. O crime não é seu, mas de quem tenta violar a sua livre escolha. Se, do lado de fora da seção eleitoral, você depende e tem mêdo, não se esqueça de que DENTRO DA CABINE INDEVASSÁVEL VOCÊ É UM HOMEM LIVRE. Falte com a palavra dada à fôrça, e escute apenas a sua consciência. Palavras o vento leva, mas a consciência não muda nunca, acompanha a gente até o inferno”.
(Grafia original mantida)

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Nossa Senhora Aparecida


ROGAI POR NÓS!








segunda-feira, 11 de outubro de 2010

A ENCRENCA é carioca

O uso de estrangeirismo costuma ampliar o vocabulário, enriquecer o idioma. São palavras facilitando a comunicação, a exposição de ideias e simplificando a linguagem.

Muitas nasceram em terras cariocas, fruto de um caldo de vários temperos.

Um delas acabou em... encrenca.
Muitos já conhecem a história, mas vale recordar.

Em meados do século XIX chegavam imigrantes ao Brasil, entre eles judias pobres que acabaram se prostituindo e que ficaram conhecidas como "polacas".

As "polacas" chegaram ao Rio de Janeiro por volta de 1867 e boa parte delas chegava ao Brasil depois de passarem pela cidade de Buenos Aires. Habitavam os bordeis na zona do mangue da cidade, e dái a palavra "zona" passar a significar local de prostituição e as expressões "caiu na zona" ou "uma mulher da zona" ser sinônimo de uma mulher que se prostituíra.

A linguagem das polacas para comunicação entre si era o iídiche, língua bastante utilizada pelos judeus da Europa Central e Oriental, e por aqui, para darem recados entre si.

Na Zona do Mangue, as doenças venéreas eram muito comuns e ao suspeitarem de que um cliente portava algum tipo de doença venérea, elas chamavam o sujeito de “ein krenke”, que em iídiche, o termo era comumente utilizado para definir a ideia de “doença”.

Também usavam a expressão para espantar a polícia, que dava incertas nos bordéis.
Elas gritavam
"ein krenke, ein krenke, ein krenke..."

como um aviso sobre eventuais clientes contaminados, que todos entendiam ... ENCRENCA.

Daí que se conclui que a ENCRENCA é... carioca.

Encrenca que inspirou pinturas de primeira linha.

Quando Lasar Segall chegou ao Rio de Janeiro, no final de 1923, conheceu a região do Mangue. As impressões dessa zona de prostituição carioca resultaram em pinturas, em uma coleção de gravuras executadas em metal e madeira, a partir de 1928, na França, e no álbum Mangue, de 1943. Nas gravuras da série Mangue, os corpos femininos são traçados por linhas arredondadas, guardando sua sensualidade natural, mas as cenas são formalmente tensas. As mulheres se oferecem semiencobertas por venezianas, escondidas por cortinas, de costas ou apenas vislumbradas nas soleiras das portas. Nos anos 1950, o tema da prostituição inspira a série das Erradias.


Xilogravura - Lasar Segall


Di Cavalcanti
foi outro frequentador que com suas geniais curvas e tintas registrou a Zona do Mangue: Mangue, de 1929, grafite e aquarela sobre papel.





sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Primeiro Grande Prêmio de Automobilismo no Rio...


 Atualizado em outubro de 2020



...aconteceu em 1933, e foi vencido por Manoel de Teffé, no dia 8 de outubro, pilotando um Alfa Romeo, no Circuito da Gávea.


Manoel De Teffé ao volante de seu Alfa Romeo campeão


Manuel Antônio de Teffé  (Paris, 30 de março de 1905 — Rio de Janeiro, 1 de janeiro de 1967) que  foi um diplomata e piloto automobilístico brasileiro -  que corria na Europa - teve a idéia de se trazer para o Brasil o circuito de corridas de automóvel, para que o evento tivesse repercussão internacional.

O Automóvel Club do Brasil organizou, então, a prova que fez parte do calendário oficial da Federação Internacional do Automóvel : o Grande Prêmio Cidade do Rio de Janeiro.

Devido a seu sucesso nas provas, Teffé, na época com 28 anos de idade, convenceu o prefeito do então Distrito Federal, Pedro Ernesto, a realizar uma prova que tivesse caráter internacional. A ideia foi aceita, sendo então criada a Quinzena do Automobilismo, que consistia na realização de três provas: o Quilômetro Lançado, a Subida da Montanha e o I Grande Prêmio Cidade do Rio de Janeiro, no dia 8 de outubro de 1933. 

O I Grande Prêmio Cidade do Rio de Janeiro tornou-se a primeira corrida automobilística brasileira de nível internacional, e a primeira a fazer parte do calendário da Association Internationale des Automobile Clubs Reconnus, precursora da Federação Internacional do Automóvel (FIA). 

O local escolhido foi o Circuito da Gávea, um traçado de rua com mais de 11 quilômetros que contornava o Morro Dois Irmãos. A largada era na Rua Marquês de São Vicente, quase em frente a então sede antiga do Automóvel Club do Brasil , seguia pelas Avenidas Bartolomeu Mitre, Visconde de Albuquerque, Niemeyer e Estrada da Gávea, onde hoje é a favela da Rocinha.

Tinha mais de 100 curvas e um traçado desafiador de diferentes tipos de piso: asfalto, cimento, paralelepípedo e areia .

Ainda, no local de largada, os carros tinham de cruzar os trilhos de bonde, muito escorregadios.
Tudo isso junto rendeu ao Circuito da Gávea, o apelido de “Trampolim do Diabo”

O vencedor Manoel de Teffé recebeu os cumprimentos de Getúlio Vargas, presente ao evento, e também um telegrama de felicitações enviado por Benito Mussolini, premier da Itália, o país fabricante da Alfa Romeo com que correu.

Diplomata de carreira, Teffé foi promovido a embaixador dois anos antes de falecer, com quase 62 anos de idade, no Hospital dos Servidores do Rio de Janeiro e foi sepultado em Petrópolis.

Duas curiosidades:

1. 
No dia 30 de outubro de 1951, chegou ao Brasil a milionária tcheca Dana Edita Fischerova, vinda do México, onde havia se separado de seu terceiro marido, o jornalista mexicano Carlos Denegri. No Rio, em um jantar de gala, conheceu o diplomata Manuel de Teffé e começaram um romance; casaram-se seis meses depois no México, para onde ele foi designado segundo secretário da embaixada brasileira.


O casamento de Dana e Teffé durou até 1960 ou 1961, e eles não tiveram filhos. E ela continuo a usar o sobrenome Teffé apesar da separação.

Em junho de 1961, Dana de Teffé desapareceu. Ela foi vista com vida pela última vez aos 48 anos, no dia 29 de junho de 1961, quando embarcou no carro de seu advogado e namorado, Leopoldo Heitor, em Copacabana. 

Foi supostamente assassinada quando viajava de carro pela Via Dutra, em direção a São Paulo, em companhia de seu advogado, Leopoldo Heitor. Ele cuidara da separação e a representava, inclusive com procuração para cuidar de seus bens - e que ele passou para seu nome tão logo ela sumiu. Leopoldo Heitor chegou a ser acusado e preso, tendo contado três versões completamente diferentes para o desaparecimento de Dana, mas em julgamentos posteriores acabou sendo absolvido, pois nunca encontraram o corpo dela.


2.
O pai de Manuel, o embaixador Oscar de Teffé, construiu um castelo em estilo escocês em Petrópolis: o Castelo São Manoel - o qual ele nomeou em homenagem ao filho. A propriedade foi vendida posteriormente pela família, tendo sido comprada pela Companhia Brasileira Cinematográfica, pertencente a Francisco Serrador.

A área do prédio e o seu entorno hoje correspondem ao bairro petropolitano de Castelo São Manoel. No interior do castelo se encontrava a imagem de Nossa Senhora de Copacabana, trazida de Copacabana, Bolívia, por mercadores do Peru, para o Rio de Janeiro, ainda no século XV. Foi em homenagem à virgem que o bairro carioca de Copacabana passou a ter esse nome. Para abrigar a santa, foi construída uma capela onde hoje se encontra o Forte de Copacabana. Em 1916, quando a capela foi destruída, a imagem foi novamente confiada à família Teffé, que a conservou no Castelo São Manoel.



quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A linda restinga da Marambaia...

...que nessa primavera vale recordar.


Recebi esta foto de Ricardo Zerrenner, inserida em um bonito pps sobre a Baía de Sepetiba. A restinga da Marambaia é um belo local preservado do Rio.

Aliás, a Marambaia foi fonte de inspiração e título da composição de Henricão ( Henrique Filipe da Costa) e Rubens Campos - uma das primeiras composições da dupla - gravada por Carmen Costa em 1942 .

Elis Regina
no histórico show Saudade do Brasil, no Rio de Janeiro, no Canecão, em 1980, incluiu essa canção. Veja aqui.

Eu tenho uma casinha
lá na Marambaia
Fica na beira da praia,
só vendo que beleza

Tem uma trepadeira
que na primavera
Fica toda florescida
de brinco de princesa

Quando chega o verão
eu me sento na varanda
Pego um violão
e começo a tocar

E minha morena
que esta sempre bem disposta
Senta ao meu lado
e começa a cantar


Quando chega a tarde
um bando de andorinhas

Voa em revoada
fazendo verão

E lá na mata
o sabiá gorjeia
Uma linda melodia
pra alegrar meu coração

Às seis horas da tarde
o sino da capela
Bate as badaladas
da ave-maria

E a lua nasce
por detrás da serra
Anunciando
que acabou o dia!

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

No Balanço de João Roberto Kelly

No FESTIVAL DO RIO, neste mês de outubro, está sendo exibido um curta sobre o grande compositor carioca JOÃO ROBERTO KELLY - No Balanço de Kelly, de Andre Weller - com suas histórias, suas músicas.



Vale conferir!



Pra dar água na boca, dois trechos.






sábado, 2 de outubro de 2010

Ainda em tempo de eleições

Há 100 anos, uma campanha para as eleições de 1910 marcou a história do Brasil:
a de Rui Barbosa à Presidência da República.


Nessa campanha, a Campanha Civilista - uma oposição civil à candidatura militar do Marechal Hermes da Fonseca, apoiado pelo então presidente da república Nilo Peçanha - Rui tinha como candidato a vice-presidente, o presidente do estado de São Paulo, Albuquerque Lins, o que provocou uma ruptura da política dos estados e da política do café com leite. São Paulo e Minas Gerais em campos opostos nesta eleição, que se realizou em 1 de março de 1910.

Rui Barbosa percorreu o Brasil em busca de apoio popular, fato até então inédito na vida republicana brasileira, e assim, há cem anos, Rui lançou o marketing político: sua campanha tinha bottons e distribuição de santinhos.



Botton


Santinho



Com grande capacidade de mobilização, Rui deu início à era dos grandes comícios, reunindo dezenas de milhares de pessoas nas ruas das capitais e grandes cidades.
No Rio de Janeiro, cerca de 30 mil foram ouvir Rui Barbosa na Avenida Central, hoje Avenida Rio Branco.

Sua campanha com grande conteúdo - diferencial primordial e escasso até hoje- levava sua mensagem de mudança num corpo a corpo inédito, o que marcou a campanha para as eleições de cem anos atrás.

Sem nenhuma surpresa, Rui Barbosa perdeu para Hermes da Fonseca, que foi eleito presidente, em um processo eleitoral viciado. Filme repetido e muito visto pelas nossas terras. Infelizmente.