quarta-feira, 10 de março de 2010

Volta às aulas

Sempre que chega março eu me lembro do gostoso tempo de volta às aulas. Eram os lápis , borrachas, régua, apontador e ... o estojo novo.
Sim, porque se guardava todas essas coisas em estojo. Necessaire é coisa recente. E ele tinha tampinha estampada, que deslizava. Depois surgiu um com abertura, como porta de correr. Tudo em madeira.

Os cadernos tinham o nome do colégio. Externato São Marcos. Eram vendidos na escola pela dona Kate, baixinha, não muito bem humorada e seu coque! Os de matemática eram quadriculados. Capas verdes, azuis ou rosas e tínhamos que encapar. Com celofane, de preferência, que era para aparecer o timbre do colégio. Tudo arrumadinho dentro da pasta de... couro. Pesada! Afinal, um caderno pra cada matéria e mais os livros.

Novidade, mesmo, foi poder escrever nos cadernos com caneta tipo BIC - na época a marca era CAR-  que sensação! Ao chegar ao Brasil em 1961, democratizou o uso da caneta, antes tão aristocrática pelas penas e canetas-tinteiro, que aliás adorava e adoro até hoje. Lembro de algumas pelas quais era apaixonada. Mas isso é papo pra outro post.
É válido ressaltar que, nos anos 60, a assinatura com esferográfica era proibida em documentos e cheques, por isso, portar uma caneta tipo BIC era vanguarda pura.

Hoje tem a invasão dos adesivos, mas vivi o tempo dos decalques. Eram cartelas com temas e cada um, para usar na capa ou no miolo do caderno, em um trabalho , tínhamos de tirar da cartela com água. E com cuidado pra não estragar. O que acontecia com facilidade.

Cola branca, nem pensar. Era uma amarela com biquinho de borracha vermelha, ou então a caseira, e sempre à mão, cola de farinha de trigo.
E os livros? Alguns foram companheiros inesquecíveis. PROGRAMA DE VERNÁCULO, MATEMÁTICA do ARY QUINTELLA, SPOKEN ENGLISH, G.MAUGER...




Ah!...Monsieur e Madame Vincent percorrendo Paris...Église de la Madeleine...


Mais tarde veio o tempo dos fichários pretos. Caderno era coisa pra criança. Da Papelaria União era sonho de consumo, com a capa crespinha. Quando passo hoje pela Rua do Ouvidor nº 77 ,dá uma ponta de tristeza ver que a tradicional papelaria se foi , depois de 130 anos. E seus materiais de escritório, mobiliário de fabricação própria - de sua fundição em Bonsucesso, também, desativada - a sofisticação de uma época não resistiram aos tempos modernos de produtos chineses e grandes redes.

Como era bom voltar às aulas!

Como era bom conhecer a nova sala! Que carteira iria sentar?

Como era bom uniforme novo! Aquele nó na gravata...

Como era bom professor novo!

Estudar sempre teve um sabor especial. Sabor de curiosidade, sabor de novidade, sabor de saber.


2 comentários:

  1. Sim, como no "Estudante Alsaciano", de Acácio Antunes, a escola pública era risonha e franca. Anos 50, professoras excepcionais, formadas pelo Instituto de Educação ou a Carmela Dutra. Português (dizia-se "Linguagem"), Matemática e Conhecimentos Gerais (Geografia, Historia, Desenho e Ciências). Livros didáticos afamados, cadernos encapados e inspecionados amiúde pelas mestras, trabalhos de casa, provas mensais e parciais em papel almaço...Canto Orfeônico - todos os hinos imagináveis, inclusive o do país que dava nome à Escola, com cuja Embaixada mantínhamos cerrado intercâmbio cultural. Quintanistas como Porta-Bandeira e Guarda de Honra, trazendo majestosamente o Pálio duas vezes na semana, para ser saudado com o canto do Hino Naconal. Rudimentos de Ordem Unida - sentido, cobrir, marchar - pois desfilávamos, naquelas duas vezes, na própria escola, cantando Fibra de Herói e outros hinos. E também em datas cívicas, pelas ruas do Rio. Trabalhos manuais, da massa plástica à serra tico-tico. Merenda escolar de qualidade, processada na excelente cozinha da Escola. Posto de Saúde com Médico e Dentista - ali recebi todas as vacinas e fiz várias abreugrafias. Biblioteca, auditório com sessões semanais de cinema ou teatro, visitas a museus...Comemorações de dezenas de datas cívicas e festivas, com nossa participação ativa, subindo ao palco para ler, declamar, cantar, encenar dramatizações - 7 de setembro, 15 de novembro, descobertas da América e do Brasil, fundação do Rio, dias do soldado, do aviador e do marinheiro, dias das mães e dos pais, dia da árvore, festas juninas, Natal...Rudimentos de política - funcionamento dos três poderes, nas três esferas...Uniformes azuis e brancos impecáveis, "EP" bordado no bolso, divisas na manga, muitas aulas de higiene, educação física...Ah, sim - mesclávamo-nos harmoniosamente, brancos, pretos, mulatos, caboclos, nissei e até estrangeiros...ricos, pobres e remediados...católicos, protestantes, espíritas...Juntos brincávamos no recreio, de bola-de-gude, bandeirinha, pique...Juntos discutíamos às segundas-feiras os resultados do futebol...Namorávamos platonicamente, trocávamos fatias das merendas trazidas de casa, fazíamos "vaquinhas" para comprar e repartir gulodices nas carrocinhas da Kibon, ajudávamo-nos uns aos outros nos trabalhos de casa...
    Quem terá, Deus do Céu, acabado com essa escola risonha e franca ? Será tão difícil assim refazê-la ? Ou é mais fácil criar-se quotas (leia-se privilégios) que geram votos para demagogos e semeiam entre nós um odioso e progressivo apartheid que nunca existiu no Brasil ?
    Com a palavra os brilhantes políticos que nos governam.

    Gil Ferreira

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  2. Beth, uma delícia a volta às aulas. Me lembro dos doces da porta da escola, de abóbora e batata, que eu adorava e cocô de rato e maria mole. Tinha tb o uniforme de ginástica, que minha mãe ia comigo comprar na Colegial, no Méier. A gente enrolava o calção, para ficar curtinho. Tanta coisa boa! Pena que ficou num passado calmo, sem violência, sem essa correria desenfreada e esse medo de que o Planeta acabe!
    A gente era feliz e não sabia!
    Abração
    Alda Rosa

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